Dossiê 02 - Claudio do Amaral Júnior

Área de identificação

Código de referência

BR RJCOC 05-06-01-01-03-02

Título

Claudio do Amaral Júnior

Data(s)

  • 08/08/2014 (Produção)
  • 27/05/2015 (Produção)

nível de descrição

Dossiê

Dimensão e suporte

Documentos sonoros: 4 DVDs (15h02min; cópias digitais)

Área de contextualização

Nome do produtor

História arquivística

Procedência

Área de conteúdo e estrutura

Âmbito e conteúdo

Esta gravação é resultado de uma série de seis encontros com o depoente para registro de suas experiências profissionais sobre a erradicação da varíola no contexto brasileiro, indiano e etíope. As entrevistas abordam aspectos operacionais e metodológicos de sua passagem pelo Brasil, India e Etiópia para atividades de gestão e controle da erradicação da doença, bem como abordam o contexto pós-erradicação da varíola. Foram gravadas entre agosto de 2014 e maio de 2015.

Avaliação, selecção e eliminação

Ingressos adicionais

Sistema de arranjo

Área de condições de acesso e uso

Condições de acesso

Sem restrição

Condições de reprodução

Sem restrição

Idioma do material

Forma de escrita do material

Notas ao idioma e script

Características físicas e requisitos técnicos

Instrumentos de pesquisa

Transcrição e sumário

Inventário

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Existência e localização de originais

Existência e localização de cópias

Unidades de descrição relacionadas

Descrições relacionadas

Área de notas

Nota

Primeira entrevista - 25 de julho de 2014
Sumário:
Elaboração: Poliana Orosa
[00:00 à 00:15]
Entrevistadora apresenta a biografia do entrevistado: Cláudio do Amaral Junior, nascido em São Paulo em Araraquara em 1934, formado em medicina pela UFF em 1967. No mesmo ano de sua formação iniciou uma campanha de erradicação a varíola, e coordenou está campanha no Maranhão para a fundação SESP. Também coordenou a campanha de vacinação nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e Paraná. Acompanhou os últimos casos da doença no Rio de Janeiro e também realizou documentação importante para a certificação de erradicação da doença em todo território brasileiro. Esteve na Índia durante 1973 e 1976 onde trabalhou com controle de doenças transmissíveis e assistiu os últimos casos de varíola no mundo na Etiópia de 1976 a 1980. Posteriormente, retornou ao Brasil em 1981 onde atuou no processo de vacinação da pólio, do sarampo e da tuberculose. Trabalhando com Leonel Brizola em 1983, sendo assessor do PNI em 1988, também participou junto às OPAS no Plano de Erradicação da pólio no Brasil, onde com sua experiência na varíola, trabalhou também na prevenção da cólera, hepatite e dengue em vários estados do Brasil.
Entrevistado faz considerações sobre o início de seu trabalho com a varíola em 1965, que já existia uma vacina muito boa e com técnica bem definida, mas não era como a vacina de hepatite B, que é recombinante e não tinha reação. Por ter elementos em alumínio a vacina da varíola pode causar reações; uma das missões do projeto de erradicação era minorar a recusa à vacina por conta das reações, além de se ter uma pressão do resto da América onde já não se encontrava mais varíola. A recusa na vacinação da varíola se dá desde dos tempos de Oswaldo Cruz, mas sua eficácia é comprovada uma vez que os casos diminuem drasticamente a partir da vacinação. A campanha de vacinação nacional da varíola começa com pressão interna de outros países, uma vez que o Brasil exportava a doença. Formou-se unidades de vigilância e treinamento de unidades sanitárias e, assim, se revolucionou a campanha, uma vez que a localização dessas unidades dava à população a possibilidade de se vacinar e também de orientá-la contra a doença. Outro agravante para a vacinação dizia respeito às pessoas que se deslocaram das zonas rurais para o meio urbano e que se recusavam a vacinar; estas pessoas buscavam empregos e as reações causadas acabavam por retirá-los do mercado de trabalho.

[00:15 à 00:30]
Recrutamento de médicos que tentaram implantar uma metodologia ultrapassada. Importância na utilização da agulha bifurcada e do Ped-O-Jet, pela sua eficácia. Já havia uma técnica bem quista para a varíola que era a vacinação e o instrumento de vacinação desta. Segundo o depoente, o que faltava era a mobilização dificultada pelo contexto de crise política da ditadura militar; utilização das escolas como instrumento de mobilização para a vacinação, que se mostrou eficaz uma vez que as imagens do varioloso causaram impacto nos alunos que trouxeram a família e a comunidade para a vacinação. O sucesso da iniciativa foi tanto que a vacinação passou então às praças públicas e atingiu de 60% a 70% da população daqueles municípios e dos municípios vizinhos que vieram para a vacinação. Segundo ele, essa mudança de estratégia foi fundamental para erradicação da varíola no país.

[00:30 à 00:45]
O depoente mostra à entrevistadora imagens da vacinação em praça pública, chamando a atenção para a quantidade de pessoas nelas presentes; sobre a motivação política contra a campanha de Oswaldo Cruz. Ele entende a vacinação da varíola nesse período como uma tarefa pedagógica que hoje reflete no entendimento da população sobre a importância da vacina e o reflexo é a população pedir pelas vacinas. Importância de que a vacinação atingisse a todas as instâncias sem parecer para o governo da ditadura que se tratava de um ato de rebelião. O depoente mostra fotografias do presidente da república, General Arthur da Costa e Silva, sendo vacinado.

[00:45 à 01:00]
Vacinação dos líderes da ditadura para servirem de incentivo à vacinação; entrevistado mostra foto de José Sarney. A operação de vacinação com cerca de 1.000 pessoas em atividade; criação de um posto de notificação de doenças para identificar a incidência de outras doenças contagiosas, tais como catapora. Apoio de José Sarney na campanha de vacinação de São Luís e mobilização universitária na vacinação. Vacinação no Amazonas e a exigência de se vacinar também contra hepatite B, já que havia alto índice de portadores e transmissores. A introdução da vacina contra hepatite B no Brasil em 1980; vacinação dos líderes políticos dos estados primeiramente.

[01:00 à 01:15]
Rio de Janeiro foi o último estado a ser vacinado no Brasil e onde se deram os derradeiros casos de varíola no país; o último caso de varíola no Brasil e na América foi através de transmissão hospitalar. Casos não notificados de varíola no Rio de Janeiro. Esteve 12 meses no Maranhão para acabar com a varíola e posteriormente foi para o Paraná, onde ficou por 8 meses e, sucessivamente, para Santa Catarina. A importância dos governos locais no apoio à erradicação da doença no Brasil, o que se deu em 4 anos.

[01:15 à 01:30]
O trabalho de coordenação da vacinação em 4 estados simultaneamente. A partir da publicação de boletim sobre a varíola, partiu-se para a combinação de vacina, ao se diluir as duas vacinas em uma única dose, seriam imunizadas várias pessoas e o custo benefício seria melhor. O sucesso da combinação e o início das campanhas de multivacinação utilizando a varíola. A comissão de erradicação da varíola no Brasil passou a ser precursora de toda a América na combinação de vacinas. O depoente foi por 10 anos o presidente da Comissão Nacional do Controle das Hepatites. A comissão da varíola trouxe grande aprendizado para os serviços epidemiológicos do país. Ao ir para a OPAS, já tinha formação em saúde pública.

[01:30 à 01:45]
A vacinação de meningite utilizou o Ped-O-Jet, como na varíola. Gasto do país em compra de vacinas, quando este poderia estar produzindo as suas próprias. Conta sobre diversos países e vacinas diferentes que o Brasil obtém pela compra, especialmente a vacina contra hepatite B.

[01:45 à 02:00]
Comentário sobre o vírus selvagem da varíola e a defesa para que não seja destruído, mas que sirva como pesquisa e que não esteja nas mãos de laboratórios militares. Discorre sobre a incidência de epidemia virais ao redor de laboratórios militares. Roubos de vacina antes de haver um local de armazenamento de vacinas específico e seguro.

[2:00 à 02:15]
Os últimos 19 casos de varíola no estado do Rio de Janeiro foram em 1971, alguns outros casos podem não ter sido notificados, pois se pedia aos postos de saúde para fazê-lo, mas muitas vezes médicos particulares não o faziam. A precariedade da vacinação e notificação de casos no Rio de Janeiro facilitando a disseminação da doença. Críticas ao secretário de saúde do estado do Rio de Janeiro que não deixava que a população fosse vacinada em sua totalidade e também não fazia as notificações, o que acabou fazendo a cidade ter o último caso de varíola das Américas, por transmissão hospitalar. Procura de casos no pós-vacina e a premiação para quem notificasse um caso de varíola.
O trabalho na direção da erradicação da varíola, onde conduziu uma pesquisa nacional que enviava pessoas com experiência na doença para outros estados; nessa pesquisa não se encontrou nenhum caso de varíola e esta passou a ser extinta do país. O aumento da vacinação em postos contra outras doenças por meio da multivacinação e o nascimento do PAI (Programa Ampliado de Imunização) fortalecendo as unidades sanitárias.

[02:15 à 02:30]
A dificuldade de conservação das vacinas da maneira apropriada, pois eram armazenadas incorretamente e perdiam sua característica imunobiológica, ou seja, a capacidade de provocar anticorpos. Orientação aos pontos de saúde para o cuidado e a importância com o armazenamento. O processo de consolidação da erradicação da varíola de 1971 até 1973. Em 1977, a varíola foi considerada erradicada em todo mundo, tendo tido seu último caso na Somália. A indicação pelo Ministério da Saúde para ir para a Índia ajudar na erradicação.

[02:30 à 02:45]
A ida para a Escola de Saúde Pública onde fez seu curso de saúde pública; a ida para Genebra, o departamento de varíola e a incorporação aos funcionários da OMS; a chegada à Delhi, a ida para o estado de Uttar Pradesh, em Bareilly, cujos índices de varíola eram altos. As poucas dificuldades por não falar hindu e a conexão com os locais, que eram muito dóceis. Considerações sobre capacidade para atuar na erradicação das doenças e a necessidade de entrosamento na área para realizar o trabalho. A permanência na Índia por aproximadamente 5 anos.

[02:45 à 03:00]
A multiculturalidade da Índia e a perspectiva de trabalhar num ambiente tão plural. A utilização da cultura e deuses locais para ajudar na identificação da varíola. A peculiaridade da organização social da Índia focada no aproveitamento das coisas. O cotidiano entrosamento com a estrutura local e cultural para se preparar para a vacinação.

[03:00 à 03:15]
O trabalho realizado a partir da troca de alimentos pela vacinação dos identificados com varíola, a doação de dinheiro para abastecimento alimentício local e, com isso, se conseguia vacinar a vila no entorno no raio de um quilômetro. Passou a receber ajuda do sherva que incentivava as pessoas a se vacinassem. A convivência com Madre Tereza de Calcutá em Baliganj, bairro em Calcutá, e o apoio às suas obras contra a varíola; a apoio dado por ela à sua esposa, Alba Amaral, quando estava em trabalho de campo. Sobre Indira Gandhi que conheceu em Darjeeling.

[03:15 à 03:30]
Os conflitos de libertação da Índia e a percepção que o povo tinha uma sensibilidade diferente; os cuidados em ser representante da OMS nesse contexto. Os trabalhos com os médicos Mukherjee e Nicole Grace. A convivência com José Sarney, no Brasil, e o convite para receber doações para a irmã Dulce, da Bahia, para a construção de um hospital.

[03:30 à 03:45]
A ida para o Japão para ministrar aula sobre pólio em Kunamoto, convidado por Isao Ary; o encontro com Mercedes Foster, em Los Angeles, e o agradecimento por ser o representante para as doações para a irmã Dulce. O último caso de varíola na Índia em 1975, no estado de Beawar.

[03:45 à 04:00]
A permanência durante um tempo no norte da Índia, próximo ao Himalaia, onde trabalhou. O desejo de permanecer na India, após o trabalho de erradicação da varíola e poder atuar em outras doenças. Explicações sobre o processo de erradicação na Índia, que foi diferente dos demais países, devido aos órgãos de saúde serem bem organizados e estruturados. A cultura da Índia e as diferentes experiências que viveu, as características específicas do país o ajudaram a constituir o programa de vacinação.

[04:00 à 04:15]
Explicação sobre a necessidade de respeitar a cultura na Índia e seu sistema de castas, a taxa alta de suicídios femininos, a fé e o respeito dos hindus pelos seus deuses. Considera que o trabalho na Índia foi fácil pelo apoio que a religião oferecia e também porque a população vivia concentrada em vilas, favorecendo a vacinação. Comenta as peculiaridades do país, o povo, sua educação, a indústria de filmes.

Segunda entrevista – 27 de agosto de 2014
[00:00 à 00:15]
A respeito da mobilização das pessoas em direção à erradicação da varíola no Brasil; o depoente é um dos três homens que recebeu a ordem de mérito para médico nacional em 1995. O grande ponto da campanha contra a varíola foi a mudança de comportamento coletivo frente às vacinas, tendo as escolas como o maior apoio da campanha. O mesmo método de vacinação da varíola foi utilizado contra pólio: eram projetos nacionais que envolveram todas as instâncias do país. A defesa que as estratégias contra epidemias têm de ser feitas em conjunto com todas as esferas nacionais: federal, estadual e municipal, para sua centralização; cada epidemia necessita de uma determinada estratégia e maleabilidade para ser combatida. Avalia que os postos de saúde têm as vacinas, mas não são capazes de, sozinhos, sem outras esferas, atingir a mobilização necessária e cita o caso da rubéola.

[00:15 à 00:30]
O argumento de que sem a mobilização não existe trabalho, ou seja, vacinação. A mudança de comportamento da população que hoje, por si só, exige do Ministério da Saúde, as vacinas. Fala sobre as poucas vacinas produzidas no Brasil, mesmo enxergando potencial para que outras fossem e o do gasto gerado pela compra de vacinas de outros países. Risco de surto de varíola, uma vez que há mais de 100 milhões de pessoas suscetíveis à doença e o vírus selvagem é utilizado como arma biológica. Surtos de hepatite B no Brasil, com alto índice de infectados no Norte, a vacina da hepatite B também é comprada de outros países. Só três países no mundo têm o vírus da varíola selvagem que pode provocar a doença, são eles: Rússia, Estados Unidos e Israel. Dificuldade de dar assistência médica, quando o próprio médico é mal recompensado por isso, buscando atuar em outras áreas como consultórios.

[00:30 à 00:45]

Fala da importância da saúde pública e que assuntos importantes como orientação sexual e orientação de drogas, sejam trabalhados dentro das escolas para transmissão de informação e conscientização sobre riscos. Atribui a erradicação da varíola à população, pois essa se conscientizou. A varíola foi a precursora das doenças notificáveis, com boletins semanais, também foi pioneira das vacinas aplicadas em conjunto. Sobre o Ebola, vírus identificado por Donald Francis, epidemiologista dos EUA, que também foi um dos responsáveis pela descoberta do vírus da Aids. Explica a vida do vírus e sua necessidade de um hospedeiro.

[00:45 à 01:00]
A explicação como o vírus da Aids age dentro do organismo; a convivência com Donald Francis, em Bareilly, Índia, que hoje assessora o Instituto Butantã na tentativa de encontrar uma vacina para a dengue. Importância de estudar a associação dos seres vivos na saúde pública. Utilização da varíola na época colonial como arma de guerra em outras situações pelos ingleses contra os EUA. A ação do vírus da Aids dentro do esperma do homem.

[01:00 à 01:15]
Os índices de contágio da Aids entre mulheres, que é mais baixo. Contaminação do fator 8, utilizado para tratar hemofílicos pelo vírus da Aids, por manipulação irresponsável do sangue; o fechamento dos locais onde a contaminação aconteceu. Ajuda e mobilização da população no governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro através da imprensa ajudando nas denúncias e o fechamento de locais irregulares. Mostra um mapa apontando as doenças que estão surgindo atualmente, próximas a laboratórios militares, principalmente nos EUA. Ação na visita e fechamento de hospitais com péssimas condições de funcionamento e atuação dentro de hospitais privados.

[01:15 à 01:30]
Grupo de Genebra contra a varíola, liderado pelo Dr. Anderson, visita um trabalho de vacinação, daí surge o convite para a Índia, e o curso de saúde pública antes de ir para WHO. Incidência de vacínia, após a erradicação no hospital Miguel Couto. Foi na semana seguinte ao fim do curso para a Índia como funcionário da OMS em 1973. Ao chegar em Déli, foi exigida sua comprovação de vacinação, mas não tinha sido informado da necessidade da caderneta na entrada do país e foi obrigado a permanecer num hospital para quarentena por 24 horas. Após a liberação foi levado para WHO, lá foi recebido pela chefe da varíola que o levou ao chefe da área da OMS: Nicole Grasset; apresentou a ele o trabalho na Índia e a estratégia que vinha sendo utilizada. A facilidade, pois a população rural não estava dividida em latifúndios e sim em vilas, concentrando as pessoas e facilitando a vacinação.

[01:30 à 01:45]
Choque de cultura causado pelo conhecimento das castas, mas que fez com que passasse a entender o indiano. Sobre a estrutura geografia da Índia, especialmente o Himalaia, e o privilégio de conhecer um local tão fascinante quanto a Índia. Varíola era altamente letal na Índia, com índice de óbitos que chegou a 80%, diferentemente do Brasil que concentrava uma varíola considerada varíola minor; na Índia a varíola major que era considerada altamente perigosa e agressiva. Vacinação de pessoas que já estavam com febre ou estavam dentro da área de contaminação, pois na Índia isso evitava varíola major. A aplicação de diferentes estratégias com pequenas diferenças dentro de cada necessidade das áreas que visitava. Sustentabilidade dentro das vilas rurais indianas e problemas de saneamento básico.

[01:45 à 02:00]
Necessidade de entender as diferenças culturais dentro da Índia. O país era mais industrializado que o Brasil, mais aberto ao capital estrangeiro, graças a ação de Indira Gandhi, mas ao mesmo tempo não abre mão da soberania nacional. Pedido para que fosse substituir um médico norte americano em Uttar Pradesh, próximo à fronteira com o Nepal. Estrutura de saúde na Índia contava com um sistema diferenciado: na cidade havia o centro de saúde, o posto de saúde dentro do município e um hospital de referência na sede dos municípios. Assim que chegou a Bareilly se reuniu com o chefe de saúde de lá.

[02:00 à 02:15]
O entrevistado fala novamente sobre o choque cultural na Índia e de um episódio em que estava de mãos dadas com sua esposa enquanto ela vestia uma mini saia, lá a mulher anda 5 metros atrás do marido e as pernas são fator sexual, e nunca estão à mostra. A importância e a tradição dos sáris e a característica do hindu. O fluxo de pessoas que visitavam os doentes acabava por espalhar a doença, por isso era necessário fazer a contenção.

[02:15 à 02:30]
Mobilização de procura ativa; cuidado com cidades sensíveis principalmente a presença de ingleses. Trabalho com o Dr. Mukherjee. Curiosidade com a cidade de Calcutá e a experiência de trabalho e de satisfação, conta também a experiência da casa em que viveu; a permanência na Índia durante 4 anos.

Terceira Entrevista – 3 de setembro de 2014
[00:00 à 00:15]
Retomada da conversa da entrevista anterior, tendo como tópico a estada na Índia; chegada na Índia e preocupações com diferenças culturais e linguísticas e de uma estratégia que pudesse ser eficaz mesmo sem ser fluente no idioma; o primeiro local onde se instalou no país foi em Bareilly; a importância de respeitar os habitantes e sua cultura para que o trabalho seja positivo; comenta sobre os problemas políticos-estruturais da Índia; o entrevistado esteve por 4 ou 5 anos na Índia e sua estada foi uma parte muito importante da sua vida, pelo aprendizado da mistura da sua própria cultura com a cultura indiana.

[00:15 à 00:30]
Sobre troféus que ganhou na sua estada, um eles assinado por Indira Gandhi; a obrigatoriedade da vacina de febre amarela para entrada na Índia; o entrevistado mostra fotos das campanhas de vacinação no Brasil, na Etiópia e também na Índia; a importância do trabalho de mobilização com as lideranças locais para atingir alta cobertura vacinal; sobre as táticas de campanhas utilizadas no Brasil e o trabalho de campo, o planejamento das estratégias de acordo com as características locais.

[00:30 à 00:45]
A respeito das dificuldades de algumas pessoas em entender o trabalho que ele executava no campo; as dificuldades de entender o contexto cultural e político do local onde você está trabalhando e cita como exemplo o episódio de seu sequestro na Etiópia; o entrevistado fala da alegria de ter participado da erradicação de duas doenças: varíola e poliomielite; a diferença de planejamento que um trabalho de campo exige por levar em conta o país que o trabalho está sendo feito e também seu contexto político; importância de manter a mente aberta para a cultura do país para que o trabalho seja bem executado; sobre as especificidades da indústria da Índia, principalmente na produção de vacinas; o trabalho de vacinação no norte do estado de Bengali, na Índia, que ia de Malda até Bhopal.

[00:45 à 01:00]
Explica como os casos de varíola eram expostos pela deusa Shitala Mata, facilitando assim a notificação de casos; outra forma de notificação eram as vindas dos postos de saúde locais onde acessa o endereço das vilas infectadas com a varíola; a varíola acabava por atingir mais as vilas, área rural, pois as cidades já vinham sendo imunizadas; na Índia não existiam latifúndios, facilitando assim o trabalho, por se tratarem de pequenas propriedades divididas em vilas; conforme o número de casos ia diminuindo era feita uma busca ativa de casos de vila em vila; entrevistado fala sobre o trabalho exercido por sua esposa na campanha da Índia, treinando vacinadores e procura de casos.

[00:10 à 01:15]
Sobre sua atuação na presidência da Comissão Nacional Contra as Hepatites Virais em 1989, onde atuava junto com Hermann Schatzmayr, virologista da Fiocruz, e também Gilberta Bensabath; a vacinação de hepatite B para controle da hepatite D no Amazonas, as complicações que o local mantinha e a necessidade de se montar uma estratégia adaptada ao local; implantação da hepatite B no Programa Nacional de Imunização e importância da vacinação múltipla no país; sobre a importância da vacina da hepatite B na prevenção ao câncer de fígado; permaneceu 5 anos na Índia, 2 anos em Calcutá e o resto no norte do país.

[01:15 à 01:30]
A respeito das questões culturais na Índia, como alimentação, vestimentas, castas, relações familiares e religião; sobre a questão do saneamento básico e a organização do sistema de saúde.

[01:30 à 01:45]
Comentários sobre sua passagem pelo SESP e pela Fiocruz, a importância de formar novas pessoas; sobre o trabalho de direção de varíola no Brasil e na documentação que provava que já não existia varíola no país e do legado deixado por esse processo de erradicação, como, por exemplo, o sistema de saúde com notificação; o guia de vigilância epidemiológica, do qual fez parte em 1996; comenta sobre a entrada de sua esposa no Instituto Hare Krishna.

[01:45 à 02:00]
Aproximação de sua esposa, Alba Amaral, com Madre Teresa de Calcutá; as relações do Nepal e Tibet com a China e também sobre sua última visita ao local; relação de sua esposa com budistas e as visitas aos templos, a vivência em Darjeeling onde morou e também sobre a cultura tibetana, comparando-a com a cultura indiana; sobre a cultura de castas e sobre casamento indiano, descreve a relação entre os noivos, as diferenças que encontrou após retornar; a gravidade da varíola e o mergulho na cultura local para desenvolver seu trabalho.

[02:00 à 02:15]
A rotina profissional na Índia e o reconhecimento de seu trabalho pela própria população; a ida para a Etiópia, deixando a Índia sem ter completado os 2 anos necessários para confirmar erradicação; na Etiópia também era necessária a erradicação, pois eram os últimos casos de varíola no mundo; as diferenças político-culturais da Etiópia, o único país não colonizado do continente africano, e do problema administrativo que a direção da varíola no país enfrentava; os diversos conflitos políticos vividos na época pelo país; a falta de produção de vacina no Brasil e a importância de descentralizar a produção.

[02:15 à 02:30]
A defesa de um plano estratégico na produção de vacinas e crítica aos problemas atuais dentro do SUS, dentre eles a falta de planejamento estratégico e o baixo salário dos profissionais de saúde.

Quarta entrevista – 9 de setembro de 2014
[00:00 à 00:15]
Suas passagens pelo SESP e pela Sucam, antes de ir para Índia; o estabelecimento de unidades de vigilância no Brasil que foram ampliadas na erradicação da varíola e deixados como legado ao sistema de saúde; ameaça da varíola como arma biológica, utilizada pelos países que ainda possuem o vírus selvagem, questão levantada principalmente nos anos 1980.

[00:15 à 00:30]
A respeito do trabalho de Eduardo Costa com hepatite D na Amazônia; preocupação com a evolução de outros vírus que atingem animais e poderiam atingir humanos; importância do epidemiologista desenvolver uma estratégia caso à caso levando em consideração a doença, o contexto e o local.

[00:30 à 00:45]
Introdução do Ped-O-jet na vacinação da varíola no Brasil, que possibilitou a vacinação em massa; falta de produção de vacinas nacionais e gastos anuais com compras de vacinas internacionais que podiam ser produzidas no Brasil; fortalecimento das unidades sanitárias na erradicação da pólio; importância de se ter uma produção nacional de vacinas; falta de política de saúde dentro das escolas e, com isso, falta de mobilização da população; importância de acabar com o residual numa erradicação e usa como exemplo a questão da pólio na Índia.

[00:45 à 01:00]
Último caso de varíola na Índia foi no estado de Bihar, pobre e populoso, que fazia fronteira com o estado que era responsável, US Bangla, onde já não havia mais casos de varíola; após o último caso na Índia, ficou responsável pela busca ativa de casos em todo país; foi acionado por Donald Henderson para ir à Etiópia; trabalho conjunto da Fiocruz e da Fundação SESP na imunização e especialização de profissionais na saúde pública.

[01:00 à 01:15]
As questões geográficas relacionadas ao Himalaia e as montanhas próximas; comentários sobre viagens e lugares que seu trabalho pelo mundo possibilitou que fizesse, além de conhecer novas culturas e também pessoas como a Madre Teresa de Calcutá; experiência como secretário estadual de saúde de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, e o trabalho com doenças como cólera e meningite.

[01:15 à 01:30]
Sobre as características industriais e econômicas da Índia e a interação e carinho que adquiriu com o país devido às suas características únicas e ao seu povo; sobre seu processo de mudança da Índia para Etiópia, já conhecia alguns países da África, mas não a Etiópia; a chegada e o estabelecimento em Addis Abeba.

[01:30 à 01:45]
Explica a geopolítica do país e da área, sobre países vizinhos e principalmente sobre os nômades, cujo sacerdote da tribo, fazia variolização com o fim de imunizar a tribo; divisão do país em duas tribos, os Amhricos e o Galas, que conviviam em paz pela questão monárquica do país; chegou na Etiópia em 1976, em meio à derrubada da monarquia pelos militares; a questão da varíola vinha sendo liderada por um médico ligado ao antigo monarca.

[01:45 à 02:00]
O trabalho era feito por meio de 8 helicópteros, por se tratar de um terreno acidentado e também com muitas montanhas, para, assim, conseguir-se chegar às vilas, um sistema completamente diferente da Índia que necessitava de uma estrutura para abastecer os helicópteros e atingir as vilas; a questão de dominação nas vilas e o governo etíope, com suas diversas vertentes ideológicas dentro de um mesmo governo e interferência de interesses de países europeus na Etiópia; a respeito de sua chegada ao país sem conhecimento das questões políticas e também das interferências causadas pelo médico austríaco responsável pela varíola no país.

Quinta Entrevista – 11 de setembro de 2014
[00:00 à 00:15]
Sobre a recusa do estado do Rio de Janeiro em fazer vacinação em massa de sua população, na época da erradicação da varíola, com a alegação de que a vacinação nos postos seria suficiente e que um sistema de vigilância não seria necessário; comentários sobre a dificuldade de implementar um sistema de vigilância de doenças efetivo no Brasil e também de atingir a população na época da erradicação por problemas culturais, como a vergonha da doença.

[00:15 a 00:30]
Comenta sobre estatísticas que podem ser evitadas com a vacinação, como a morte por câncer de fígado com a vacinação da hepatite B e de estratégias de convencimento e organização que poderiam ser tomadas pelo poder público; retoma sobre sua chegada à Etiópia e as questões geográficas e culturais; o panorama sobre a varíola no país, que diferente da Índia, não era epidêmico e apresentava poucos casos; a questão política do país interferindo em seu trabalho; o problema da falta de informação que encontrou em cursos de saúde pública no Brasil.

[00:30 a 00:45]
A associação aos fazendeiros etíopes e a razão dela ser necessária no trabalho de convencimento para a vacinação na zona rural do país; após a vacinação da localidade, partia-se para a busca ativa de casos; o contexto político não interferiu em trabalho de campo, a revolução política no país e a interferência inicial do médico austríaco responsável, na erradicação da varíola.

[00:45 a 01:00]
Importância estratégica da Etiópia onde estão instalados vários setores da ONU; atuação do SESP com as unidades sanitárias; carta de acusação contra médico austríaco que apoiava a monarquia, mostrando casos de abuso de poder e desvio de recursos do programa.

[01:00 a 01:15]
Sobre o período que passou fora do Brasil, com ajuda do reitor de sua universidade, para que não fosse capturado pelo exército no governo da ditadura política, por ter sido presidente do DCE; processo de expulsão de pessoas que atrapalhavam o contexto de erradicação da varíola e o trabalho de saúde pública; a interferência dos aspectos políticos em seu trabalho, tais como seu sequestro.

[01:15 a 01:30]
Sobre a intervenção da ONU na sua libertação quando foi sequestrado; com o fim da varíola na Etiópia as áreas baixas do país, região de Ogaden, foram divididas entre 5 epidemiologistas e o depoente passou a ser responsável pelo município de Uade; nesta região é que foi sequestrado quando ia checar uma notificação; permaneceu preso por 22 dias e foi levado à Hargeysa, na Somália; sobre sua trajetória de vida e o orgulho de fazer parte de um trabalho de saúde pública.

[01:30 a 01:45]
Passou 5 anos na Etiópia e sua última ação foi procuras as tribos nômades; explica como o processo de variolização era feito dentro das tribos pelo sacerdote do grupo e como a missão deles era apanhar o frasco que continha a casca do ferimento para que não houvesse a contaminação de outros povos pela variolização que existia ali e pelo movimento migratório dentro deste grupo; interferência de países europeus dentro dos conflitos africanos na defesa de seus interesses; a compra das crostas de varíola do povo nômade, terminando assim o residual de varíola do mundo, antes, porém, houve uma infecção na Somália, razão pela qual este país fosse o último país com infecção autóctone de varíola no mundo.

[01:45 a 02:00]
Entrevistado conta como conseguiu vacinar os guerrilheiros quando foi sequestrado e explica o processo de libertação pela guerrilha e a entrega para o governo da Somália; repercussão de seu sequestro e como perceberam que ele havia sido pego pela guerrilha.

[02:00 a 02:15]
O momento em que foi deixado em um hotel em Hargeysa, sem absolutamente nada, até conseguir chegar a Mogadíscio e avisar aos outros sobre seu paradeiro; sobre detalhes da sua infância e legados deixados por sua família; o seu plano inicial de se formar em medicina para ser radiologista, pois sua cidade natal, Araraquara, não tinha nenhum profissional com esta qualificação; a mudança de planos quando foi cooptado pelo serviço social pela identificação com esta área.

[02:15 a 02:30]
Entrevistado fala sobre os movimentos de ação popular que integrou na época da faculdade e contra a ditadura militar; ligação com religiosidade e conexão com o catolicismo ao longo de sua vida; o desejo de permanecer na Etiópia até o último caso de varíola para que pudesse terminar sua missão, como fez na Índia onde ficou mesmo após o último caso, durante os dois anos de vigilância epidemiológica.

[02:30 a 02:45]
Fala sobre questões relacionadas à entrega de documentos que compõem seu arquivo pessoal; o argumento de que a exposição deste material agregará muito conhecimento aos que desejam pesquisar sobre a história da varíola e que o arquivo também faz pensar sobre toda a biologia, muito além de somente a erradicação um vírus, da importância da saúde pública e de todas as pessoas que contribuíram na erradicação.

[02:45 a 03:00]
A respeito do enriquecimento dos documentos arquivísticos da COC com as entrevistas e o conhecimento derivado delas, uma vez que mostram outras faces que constituem o trabalho de erradicação de uma doença.

Sexta Entrevista – 27 de maio de 2015
[00:00 a 00:15]
Entrevistadora comenta sobre o papel complementar da última entrevista e as atividades do depoente pelo mundo; o depoente fala sobre suas experiências em reuniões com médicos que participaram da erradicação da varíola; responde às indagações feitas sobre sua trajetória, especialmente no episódio de seu sequestro por guerrilheiros; o processo de erradicação do Gambiae no Brasil e sua similaridade com a estratégia usada na varíola por Oswaldo Cruz; a tentativa de implantar a mesma estratégia dos anos 1930 do Gambiae para a varíola em 1965, em um contexto completamente distinto onde havia uma ditadura, uma crise econômica e um fenômeno de migração da zona rural para a zona urbana; a estratégia de vacinação casa à casa não era recomendada, pois necessitava da adesão da população para que funcionasse; a importância de um bom epidemiologista e o trabalho de campo; formação de epidemiologistas nacionais durante a campanha da varíola.

[00:15 a 00:30]
Importância da escola como local de mobilização na ditadura militar; o questionamento de quartéis a respeito das mobilizações para vacinação em praça pública e o convencimento dos militares para que a estratégia acontecesse; a importância da mobilização dos alunos nas instituições de ensino para trazer a população para a vacinação em praça pública; o início do sistema de notificação de doenças que conta com mais de 25 doenças; comparações entre a campanha da dengue e a campanha da varíola; diferença temporal entre a erradicação da varíola e da poliomielite e sobre a oportunidade de participar de duas erradicações em tão pouco tempo; fim da pólio no Brasil e envio de pulmão de aço para a Bolívia; sobre o período em que esteve na secretaria de epidemiologia do estado do Rio de Janeiro e sobre o dia de vacinação contra raiva canina devido aos casos raiva humana na capital; sobre a importância de se ter estratégia dentro de uma campanha de vacinação e como esta reflete em outras instâncias importantes como o SUS; considerações a respeito da visão de mundo que o epidemiologista deve levar em conta, como as circunstâncias da cultura e a área onde atuará; sobre sua carreira e a introdução de vacinas no calendário como hepatite B e meningocócica B.

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