Entre os 97 arquivos e coleções pessoais sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e disponibilizados para consulta, apenas dez são de mulheres. Essa disparidade espelha a baixa representatividade feminina que, historicamente, caracteriza o campo das ciências e revela que o gesto de doar arquivos a instituições de memória ainda é uma prerrogativa majoritariamente masculina. Como forma de dar maior visibilidade a esses acervos e às trajetórias que eles documentam, além de estimular outras titulares a doarem seus arquivos, o Departamento de Arquivo e Documentação da COC promoveu a digitalização e disponibilização na Base Arch de documentos desses arquivos através de projeto financiado pelo Programa Iberarchivos (Projeto n.º 2021/004). As existências dessas dez mulheres têm relação com temas importantes para a pesquisa em história das ciências biomédicas e das ciências sociais, além de iluminar aspectos da educação sanitária e da atuação de enfermeiras em cenários de guerra. Os mais de 4 mil documentos disponíveis para consulta na íntegra expressam, de alguma forma, essas trajetórias.
![]() | Alda Lima Falcão (1925-2019) Nasceu em 27 de março de 1925, em Aracati (CE), filha de João Barbosa Lima e Raimunda Pereira Lima. Sua trajetória profissional, iniciada em 1939, aos 14 anos, esteve ligada a instituições da área da saúde pública. Primeiramente atuou no Serviço de Malária do Nordeste (1939-1942), depois no Serviço Nacional de Malária (1942-1956), e posteriormente no Instituto Nacional de Endemias Rurais (1956-1975), que a partir de 1976 passou a fazer parte da Fiocruz. Nessa instituição foi pesquisadora e chefe do Laboratório de Leishmanioses do Centro de Pesquisas René Rachou, como também curadora da Coleção de Flebotomíneos. Em 1958 fez o curso de especialização em entomologia médica da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Aposentou-se em 1994, mas permaneceu desenvolvendo seus trabalhos sobre sistemática de flebotomíneos. Em 2007 recebeu o título de pesquisadora emérita da Fiocruz. Morreu em agosto de 2019, em Belo Horizonte. |
Documentos textuais digitalizados (36)
Alina Perlowagora-Szumlewicz (1911-1997) Nasceu em 18 de dezembro de 1911, em Jedwabne (Polônia), filha de Herman e Sabina Perlowagora. Formou-se em ciências naturais pela Universidade de Varsóvia, onde obteve o título de doutora em filosofia e trabalhou como pesquisadora associada do Instituto de Fisiologia Aplicada até 1939. Diante da perseguição nazista aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, transferiu-se para o Brasil em 1942 e ingressou como pesquisadora associada no Serviço de Estudos e Pesquisas sobre a Febre Amarela da Fundação Rockefeller, com sede no Rio de Janeiro. Realizou importantes pesquisas sobre febre amarela, sendo responsável pela implantação do método de fixação do complemento para o diagnóstico dessa doença no Brasil. Em 1949 foi para o Instituto de Malariologia do Serviço Nacional de Malária, incorporado em 1956 ao Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERu), para desenvolver pesquisas sobre o controle de moluscos vetores da esquistossomose através do uso de moluscicidas. Naturalizou-se brasileira em 1951. De 1962 a 1963 foi bolsista da União Pan-Americana e pesquisadora visitante do National Institutes of Health, lotada no Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto Nacional de Alergia e |
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![]() | Dely Noronha de Bragança Magalhães Pinto (1942-) Nasceu em 24 de novembro de 1942, no Rio de Janeiro, filha de Décio Noronha e Ottilia Noronha. Com a morte do pai, foi educada por sua mãe e por Manoel Bragança. Fez o curso primário em três instituições de ensino na cidade do Rio de Janeiro, uma delas o Externato Irmã Paula. O curso ginasial foi concluído no Instituto Roccio e o científico na Escola Municipal Souza Aguiar. No pré-vestibular para medicina, conheceu o professor Fritz de Lauro, médico aposentado e futuro padrinho de formatura do Curso de História Natural, e que teve grande influência em sua trajetória profissional. Foi nas aulas deste professor que desenvolveu seu interesse pela biologia. Em 1963 ingressou no Curso de História Natural da Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, concluindo-o em 1968. Ainda em 1963, iniciou seu trabalho como estagiária no IOC, graças à influência de Domingos Arthur Machado Filho, que havia sido seu professor no científico. No IOC trabalhou inicialmente na Seção de Bacteriologia e, depois, na Coleção de Diptera, com Lauro Travassos. Em caráter extraoficial, trabalhou também com a Coleção de Lepidoptera da Seção de Helmintologia, atividade que lhe rendeu vários trabalhos científicos como |
Documentos textuais digitalizados (300)
Dyrce Lacombe de Almeida (1932-) Nasceu em 16 de março de 1932, no Rio de Janeiro, filha de Luís Lacombe e Maria Franco da Cunha. Em 1955 graduou-se em história natural pela Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) da Universidade do Brasil. Ainda estudante, trabalhou na faculdade como assistente de Olympio da Fonseca Filho e participou do curso de extensão universitária em zoologia ministrado por Newton Dias dos Santos, do Museu Nacional. Em 1952 fez o Curso de Entomologia Geral do IOC com Rudolf Barth. A partir desse momento, como bolsista da instituição, iniciou uma frutífera carreira de pesquisa junto ao pesquisador, trabalhando com anatomia e histologia de insetos, principalmente barbeiros. Nos anos seguintes, manteve forte vínculo com a atividade docente na FNFi, Universidade do Distrito Federal, Ministério da Educação e IOC. Em 1957 foi aprovada em concurso do Departamento Administrativo do Serviço Público, sendo lotada como zoóloga no Museu Nacional. Afastou-se da instituição em 1960 para ingressar nos quadros do IOC, primeiramente como bolsista do Conselho Nacional de Pesquisas e, depois, biologista e pesquisadora. Ainda nessa data passou a se interessar pela pesquisa com crustáceos, em especial pelas cracas (cirrepédios), |
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![]() | Elizabeth Rachel Leeds (1942-) Nasceu em 30 de agosto de 1942, em Worcester (Massachusetts, Estados Unidos). Formada em ciência política pela Universidade de Boston, foi voluntária do Peace Corps Volunteers. Chegou ao Brasil em 1965, onde conheceu o antropólogo Anthony Leeds - com quem se casou em 1967 -, tornando-se colaboradora em suas pesquisas sobre favelas. Sua dissertação de mestrado foi defendida na Universidade do Texas e sua tese de doutorado, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Além das favelas, pesquisou a imigração em Portugal, direitos humanos e políticas de segurança pública no Brasil. De 1989 a 1997 foi diretora executiva do Centro de Estudos Internacionais no MIT. Como membro do programa da Fundação Ford para governança e sociedade civil no Brasil, entre 1997 e 2003, desenvolveu uma iniciativa de policiamento democrático. É co-fundadora e presidente honorária do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, iniciado em 2005. Atua como pesquisadora Associada no Centro de Estudos Internacionais do MIT. |
Documentos textuais digitalizados (67)
Hortênsia Hurpia de Hollanda (1917-2011) Nasceu em 26 de maio de 1917, em Corumbá (MS), filha de Horácio Hurpia Filho e Olívia Bacchi Hurpia. Em 1941 formou-se em língua e literatura anglo-germânica pela Faculdade Nacional de Filosofia e, em 1949, concluiu o curso de nutrição pela Universidade do Brasil. Especializou-se em saúde pública e educação em saúde na Universidade do Chile em 1950. Dois anos depois obteve o título de mestre em saúde pública e educação na Universidade da Califórnia, em Berkeley, Estados Unidos. De 1949 a 1955 foi assistente técnica da Divisão de Educação Sanitária do Serviço Especial de Saúde Pública. A partir de 1954 atuou no Departamento Nacional de Endemias Rurais, onde formulou e coordenou, em caráter pioneiro, programas de educação em saúde, em perspectiva multiprofissional, integrando as áreas de epidemiologia, psicologia, educação, ciências sociais e clínica médica. Em 1958 atuou como consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS) para observação de programas de erradicação da malária e de controle da esquistossomose na África. Em 1960, como bolsista da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, trabalhou no planejamento e na avaliação de materiais educativos para a saúde em |
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![]() | Maria Cristina Fernandes de Mello (1950-) Nasceu em 21 de setembro de 1950, em São Paulo (SP), filha de Acyr Fernandes de Mello e Marialva Fernandes de Mello, primogênita de quatro filhos, dos quais, três, formaram-se em arquitetura. Graduou-se em 1974 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1976 ingressou, por concurso público, na Universidade Federal Fluminense (UFF), como professora do curso de Teoria e História da Arquitetura. No mesmo ano ingressou na Universidade Gama Filho, onde permaneceu até 1979 como professora de Desenho. Cursou o doutorado em Restauração de Monumentos entre 1982 e 1988 na Scuela de Specializzacione da Universidade de Roma, tendo defendido a tese “Le torri del Padiglione Moresco nella Fondazione Oswaldo Cruz a Rio de Janeiro”. Em 1986 foi contratada pela Fiocruz, a convite de Sérgio Arouca, para projetar e coordenar a obra de restauração do Pavilhão do Relógio. Posteriormente, também coordenou as obras de restauração dos prédios que constituem o Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos. Em agosto de 1989 foi instituído o Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz, do qual foi a primeira chefe. Em 1990 tornou-se servidora pública nesta instituição. Sua atuação, por cinco anos, como consultora e |
Maria José von Paumgartten Deane (1916-1995) Nasceu em 24 de julho de 1916, na cidade de Belém (PA), filha de Sigismundo von Paumgartten e Adelaide Borges. Graduou-se pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará em 1937. Durante o curso atuou como assistente da Comissão Encarregada dos Estudos da Leishmaniose Visceral Americana e, posteriormente, do Serviço de Estudos das Grandes Endemias, ambas as iniciativas sob o comando de Evandro Chagas. Em 1939 se transferiu para o Serviço de Malária do Nordeste e fez parte da vitoriosa campanha contra o mosquito Anopheles gambiae no Ceará e Rio Grande do Norte. No ano seguinte casou-se com Leônidas de Mello Deane, de quem se tornou parceira em importantes estudos sobre parasitologia e entomologia médica. Em 1942 assumiu a função de assistente do Departamento de Parasitologia do Serviço Especial de Saúde Pública e, três anos depois, foi indicada para comandar a Seção de Parasitologia do Laboratório Central da instituição.Em 1953, junto ao marido, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. De 1958 a 1959 chefiou o Laboratório de Entomologia da Campanha de Erradicação da Malária do Ministério da Saúde. Em 1961 foi para o Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. |
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![]() | Sarah Hawker Costa (1949-) Nasceu em 4 de junho de 1949, em Londres, filha de Albert Arthur Hawker e Rosamund Ann Maurenn Hawker. Sua formação acadêmica foi realizada na Inglaterra, onde obteve os títulos de bacharel em ciências pela Universidade de Surrey (1971), de mestre em demografia médica pela Universidade de Londres (1972) e de doutora em saúde pública pela Universidade de Oxford (1995), com a apresentação da tese “The determinants and consequences of induced abortion in Rio de Janeiro, Brazil”. Foi professora e pesquisadora titular do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz. Entre 1994 e 2007 atuou como assessora de programas na Fundação Ford no Brasil, desenvolvendo e gerenciando programas internacionais e nacionais sobre gênero, sexualidade, saúde reprodutiva, direitos das mulheres, HIV/AIDS e políticas de saúde. Em 2010 tornou-se Diretora Regional do Fundo Global para Mulheres. Atualmente é Diretora Executiva da Women's Refugee Commission (WRC), organização global que defende os direitos e a proteção de mulheres, crianças e jovens deslocados por conflitos e crises, além de membro do Conselho Consultivo Global da World Learning. |
Acessado em junho de 2023
Virginia Maria de Niemeyer Portocarrero (1917-2023) Nasceu em 23 de outubro de 1917, no Rio de Janeiro, filha de Tito Portocarrero e Dinah de Niemeyer Portocarrero. Viveu sua infância na Tijuca e foi alfabetizada pela mãe. Fez o primário no Colégio Maria Imaculada, mantido por irmãs concepcionistas espanholas, onde aprendeu piano e trabalhos manuais, como era uma típica educação feminina na época. Formou-se bacharel em ciências e letras pelo Colégio Pedro II da avenida Marechal Floriano, no centro do Rio de Janeiro, e mais tarde realizou o Curso de Aperfeiçoamento e Arte Decorativa da Escola Politécnica Nacional de Engenharia, adquirindo formação de decoradora, professora de desenho e desenhista. Em função das constantes mudanças vividas em decorrência da profissão do pai, iniciou o Curso de Enfermagem Samaritana na Cruz Vermelha de Belém do Pará, e veio a concluí-lo no Rio de Janeiro. Vários membros de sua família eram militares e por isso cresceu ouvindo histórias de tios e avôs que lutaram na Guerra do Paraguai, o que representava motivo de orgulho e exemplo a ser seguido pelos demais. Devido a sua formação, trabalhava no Instituto do Mate como desenhista, mas ao ler uma matéria no jornal “O Globo”, na qual o governo solicitava voluntários para a Segunda Guerra Mundial, inscreveu-se sem o conhecimento da família e foi selecionada. Uma vez escolhida, era preciso realizar capacitação |
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Documentos textuais digitalizados (475)
Equipe Departamento de Arquivo e Documentação / COC
Coordenação: Ana Roberta Tartaglia Supervisão: Felipe Almeida Vieira Bolsistas Iberarchivos: Bettina Pinheiro Martins, Rafaella de Souza Serafim e Paulo Jose Parintins Laboratório Fotográfico J. Pinto: Natalie Rickli Pimentel, Marcio de Oliveira Ferreira, Vinicius Pequeno de Souza e Jeferson Mendonça Silva Conservação e Restauração de Documentos: Nathália Vieira Serrano; Gabriela Dutra Mello; Raquel Laine de Abreu |